POLÍGONO
O destino tem três faces:
uma que chora,
outra que é esbofeteada,
na terceira encontramos
a face do desespero.
A que que chora
tem três faces:
uma que suplica,
outra que lastima,
a terceira dá gargalhadas.
A que é esbofeteada
tem três faces:
uma que se oferece,
outra que se esconde,
a terceira não se permite.
A face do desespero
carrega três mistérios:
dois sepultados
e um perdido.
A razão tem três faces:
uma que sofre calada,
outra que reclama pelos cantos,
na terceira encontramos
a face que nunca admite.
A que sofre calada
tem três faces:
uma que acalenta,
outra que consola,
a terceira vai à luta.
A que reclama pelos cantos
tem três faces:
uma que se mutila,
outra que se consome,
a terceira não se atreve.
A face que nunca admite
carrega três segredos
escondidos nos olhos:
dois inconfessáveis
e um esquecido.
O medo tem três faces:
uma que aterroriza,
outra que se apavora,
na terceira encontramos
a face dos mortos-vivos.
A que aterroriza
tem três faces:
uma que agoniza,
outra que se petrifica,
a terceira flagela-se com as unhas.
A que se apavora
tem três faces:
uma que se perde na escuridão,
outra que se entristece na aurora,
a terceira não se encontra em vida.
A face dos mortos-vivos
carrega três cruzes
feito um peso nos ombros:
duas sem dono
e uma como fez o Cristo.
A Liberdade tem três faces:
uma que é permitida,
outra que é vigiada,
na terceira encontramos
a esperança perdida.
A que é permitida
tem três faces:
uma que conspira,
outra que agoniza,
a terceira pega nas armas.
A que é vigiada
tem três faces:
uma que dissimula,
outra que se deixa abater,
a terceira se vinga do assassino.
A face da esperança perdida
carrega três cadáveres:
dois para a Lista dos Desaparecidos
e um que faz versos
para os séculos lerem um dia…
Rio de Janeiro, 29.12.72