POEMINHA NACIONALISTA
SALVATÁGIO
Brasil amado, idolatrado,
Oh! Salve, salve, pátria bendita.
Salve a Bahia, salve a Baiana,
Salve o pendão aurifulgente.
Oh, quanta coisa para salvar
na pátria amada
E ameaçada.
Salvar as matas, salvar os pobres,
Salvar o amigo do outro partido,
Salvar os ricos, da caixa baixa,
Salvar o samba do ataúde,
Salvar a infância e a saúde,
Salvar a arte, de quem censura,
A democracia da ditadura,
Salvar o belo, salvar o nobre,
Salvar o aço (e algum cobre),
Salvar a moral, a tradição,
Salvar o moral da Seleção,
Salvar o craque de quem não é,
Salvar Garrincha, salvar Pelé,
Salvar o salário de quem o congele
E, sobretudo, salvar a pele.
21.11.1964
Comentário do pesquisador
Millôr Fernandes data o poema em 21.11.1964, o primeiro ano da Ditadura Militar. Nesse contexto, a pátria é dita "ameaçada" e precisa ser salva. Assim o texto não tece apenas salvações no sentido de parabenizações (embora elas estejam presentes, não raro de modo irônico), mas pede espécies de S.O.S.'s. Em especial, o poema tece os versos "Salvar a arte, de quem censura, / A democracia da ditadura", não deixando dúvidas acerca de seu posicionamento contra a censura e a ditadura militar. Há referência também ao congelamento do salário (sendo importante lembrar a desvalorização salarial, prática recorrente durante os Anos de Chumbo) e à importância de "salvar a pele", isto é, se livrar de problemas em um contexto bastante problemático do país.