POBRE CHILE
(Para Rodrigo Rojas, incendiado no Chile)
Não bastaram os bombardeios das colinas
e o fogo nos dois lados de La Moneda;
pequenos, médios e grandes cadáveres
a encherem de medo as calles cálidas (ou frias?) de Santiago.
Não bastaram os punhos decepados de Victor Jara
e a tristeza-avalanche de Neruda
desabando do rosto enorme dos Andes.
Não bastaram a repugnante lei e a general covardia:
agora, tocaram fogo em tua juventude,
e, quando a beleza do povo começa a incendiar-se,
ele fica feio e selvagem
e para aplacá-lo
nem guitarras e Jaras bastarão.
Comentário do pesquisador
Rodrigo Andrés Rojas de Negri (1967-1986)1 foi um fotógrafo chileno que morreu em decorrência de queimaduras infligidas por uma patrulha militar durante um protesto contra a ditadura militar de Augusto Pinochet. Dada a simultaneidade e a relação entre as ditaduras latino-americanos, optamos por considerar este um poema sobre os anos de chumbo. Publicado no contexto brasileiro, o texto reflete, ainda que indiretamente, também o nosso regime.