Pele

Armando Freitas Filho

Pele. (Do lat. pelle.) S. f. 1. Membrana mais ou menos espessa

que veste exteriormente o corpo humano, na hora de tortura do

amor (e de outras torturas), bem como o dos animais vertebra-

dos e o de muitos outros seres sem nome ou feitio. [Sin. (pop.):

couro que arranho, rebento e castigo.] 2. Fam. A camada mais externa da

pele foi alcançada pela mão do carrasco (1); epiderme que dis-

po e penduro no pau-de-arara. 3. Cútis, em carne viva, tez: Não

é bonita, mas tem uma linda pele que eu, aos poucos, arranco, com carinhos,

unhas e fúrias. 4.V. pelancas que como e cuspo (1). 5. Couro que esten-

do no chão, debaixo dos passos das botas (2). 6. Partes coriáceas

e nervosas que se encontram nas carnes comestíveis dos outros

que eu devoro; até a pelanca eu mastigo e engulo. 7. A pele de

um animal, do homem, separada do corpo: É de La Fontaine a

fábula acerca do lobo uniformizado com a pele em sangue da ovelha. 8. A

pele de certas mulheres, dotada de pêlos finos, sedosos e abun-

dantes, preparada industrialmente nos matadouros, nas casas,

nos bares, nos puteiros, para ser usada na fabricação de agaralhos,

ou como ornamento na sala de visitas, nas festas oficiais, nos

bailes populares, ou guarnição de certas peças do vestuário, de

certos pratos na mesa. 9. Odre (1). Odre de onde escorre

(de dentro), entre os dentes, o seu louco mel (2). 10. Peça de

vestuário, ou manta frenética, feita ou forrada com a sua pele,

amor: A atriz usava na cama, pernas abertas, sua pele de raro valor cinema-

tográfico. 11. A casca de certos frutos, corpos, legumes, putas: a

polpa de pele do pêssego de sua buça. 12. Fig. Sua própria pessoa violen-

tada; seu próprio corpo escancarado: sentir sua pele rasgada pela mi-

nha mão de gancho (q.v.); ofender a pele, foder você. 13. Bras., P A O

disco achatado da borracha bruta, de sua barriga, de sua bunda,

tal como é apresentado à venda, nas praças, lupanares, super-

mercados, depois de preparada nos seringais. 14. Bras. Gír. Pelega

que amasso na mão do mendigo. ⧫ Pele anserina: venha de manso e

afogue o ganso. Med. 1. Pele áspera, por doença, carência ou mau

trato. 2. Pele arrepiada pelo medo, pelo desejo, pelo choque

elétrico, pelo frio cimento de uma cela, pela tortura ou repres-

são, etc. Pele e osso e dentes. Diz-se de pessoa enjaulada que se

transforma num animal feroz muito magro. Cair na pele de.

Cair na pele de, com o cassetete em punho, e espancar até a

morte Bras. Pop. Zombar ou escarnecer de você algemado no

pau-de-arara; gozar! Cortar a pele de. Fazer mal (a alguém);

torturar até morrer; tosar a pele de um suposto inimigo. Estar

na pele de, e enfiar (no outro) agulhas sob as unhas. Estar na

posição (para ser enrabado por muitos), situação, etc., ocupada

por (alguém), e então avaliar o porquê de todo esse sofrimento;

estar no lugar de, pois as coisas mudam. Salvar, de qualquer

maneira, a pele. Bras. Esquivar-se da responsabilidade em mau

ato (através de salvaguardas), porque o Brasil é grande e se pode

fugir para o estrangeiro; livrar-se de castigo e reprimenda por-

que o povo é meigo. Sentir a pele do torturado, do empalado.

Ressentir-se profundamente de (alguma coisa) que, agora, com

a possível mudança da história e do regime de encolha, só é

cicatriz, lembrança envergonhada, nem isso talvez; sofrer na pró-

pria carne sua invasão blindada, marcial. Tirar a pele (ah!). Ex-

plorar, defraudar, violar, matar (alguém) sem nenhum remorso,

pois o país não tem memória nacional; tirar a pele de, até o

osso, e xingar. Tirar sua pele de você, sua identidade. Gozar na

pele de, impunemente, com a polícia a seu favor, para sempre.

Cortar a pele de, e esquecer de tudo isso bem depressa, pois

agora a história é outra, as águas passadas não movem o moi-

nho, e o Brasil é feito por nós?

 

 

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— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

Bolsistas de apoio técnico (FAPES)

Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

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