Pão, terra e liberdade

Maciel de Aguiar

PÃO, TERRA E LIBERDADE

 

Quero ao meu País

a esperança restaurada,

não a que se esvaiu pelos dedos,

a que se perdeu pelos esgotos,

a que foi anunciada pelos quartéis,

a que foi cantada pela propaganda,

mas a que continua germinando

na consciência do povo;

a que vem do processo

de acreditar na vida,

no direito de trabalhar,

de formar uma legião

em busca da cidadania

diante da aventura

da busca da Liberdade,

acabar com a fome,

aniquilar a miséria

e devolver o riso

aos lábios dos que choram.

Quero ao meu País

o direito à felicidade,

para que possamos dividir

alegrias,

sonhos,

desejos,

anseios,

construir um tempo novo

que vai alimentar os famintos

que peregrinam pelos arrabaldes

e que se multiplicam pelo mundo.

Quero que o meu País

respire o ar da independência,

não da independência vigiada,

sob a tutela do capital,

mas da independência sonhada

por todos os venturosos,

conduzida pelas mãos,

acalentada pelos velhos,

encorajada pelos jovens,

sem os grilhões da dominação

nos pés dos dominados

que peregrinam descalços

por todos os lados,

por todos os cantos,

por todos os caminhos

em busca do prometido.

Quero ao meu País

o destino da Liberdade,

não o destino imposto

por sanguinários com estrelas

no peito embandeirado

de vocação assassina.

Quero a esperança

de poder repartir

as riquezas com os que precisam,

dividir a vastidão

com os que peregrinam,

poder encontrar a todos

os que emprestaram os nomes

à Lista dos Desaparecidos,

poder confiar aos homens

a Justiça sem a desconfiança

de estar sendo enganado,

para que cada um possa

carregar a cidadania

e devolver à Pátria

toda a sua grandeza.

Não quero ao meu País

a dor de uma geração

que deixa o sangue nas salas

de tortura sem ser ouvida,

que se arrasta pelos corredores,

que respira gás lacrimogêneo,

que conversa com o próprio cadáver,

que tem medo de atravessar a rua,

que morre antes de nascer,

que não sabe se haverá amanhã,

que encontrou-se com a desgraça,

que escreve poemas

que nunca serão lidos.

Não quero ao meu País

a dor que carrego no peito,

o medo que carrego na alma,

a desesperança que vejo nos olhos,

o sentimento escondido no sótão,

a canção que escrevo nas trevas.

Quero ao meu País

pão,

terra

e Liberdade.

 

Rio de Janeiro, 1.12.71

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Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

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Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

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