PALAVRAS AO MENINO VADIO
(1964)
O sol morreu. O vento
deixou pedaços de aurora
ardendo pelo caminho.
Cabelos no rosto molhados,
uma criança soluça
prostrada num chão de silêncio,
flores, sem brisa, vergadas,
enfeitam a morte da luz,
as sementes da alvorada
vagueiam noturnas
e noturnamente marchamos,
pela sombra condenados,
guardando nas mãos feridas
a vontade nova do fogo,
o cristal perseguido da aurora.
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Comentário do pesquisador
Pedro Tierra é pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva. O poema "Palavras ao menino vadio (1964)" integra a seção homônima ao volume: “Poemas do povo da noite”. Na segunda edição desse livro (coeditada pela Fundação Perseu Abramo e pela Publisher Brasil, em 2009), há um texto introdutório intitulado “Explicação necessária”. Nessa introdução, Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) informa: “Os poemas aqui reunidos foram escritos durante os cinco anos de prisão – de 1972 a 1977 – e publicados em volumes separados: Poemas do povo da noite (Ed. Livramento, S. Paulo, 1979), Água de Rebelião (Ed. Vozes, Petrópolis, 1983)” (2009, p. 19). A edição de 2009, que reproduz “Palavras ao menino vadio (1964)” na página 50, informa que esse poema foi escrito em 1972.