Palavra puxa palavra
(oral)
Nas faixas da fala
a palavra se arma:
a uma sílaba, uma bala
no fuzil das frases
que vibra e atira
seus sons, timbres
nas salas do espaço
um tiro ou um passo?
Que alça a escada
de tons —— degrau
a degrau se lança
do alto da escala
o vôo instantâneo
da voz —— percussão:
espanto de pássaros
que súbitos no ar
se estampam no céu:
no oco da boca um eco
se espalha —— espelho
verbal que soletra
e amplia as palavras:
sentenças que sondam
e se soltam do arco:
setas nos vazios vãos
do espaço, mergulho
de agulhas na concha
do tímpano: estampido
a dicção se imprime:
sincronia de frases
com o pulso do gesto
que empunha o sentido
e empurra o silêncio
os surdos-muros-mudos
do medo, catapultas
de palavras no impulso
contra paredes cegas
que caem, rasgadas
mordaças no chão:
sob o som das vozes
que avançam no ar.
Comentário do pesquisador
"Nas faixas da fala / a palavra se arma", diz o eu lírico logo na entrada do poema, trazendo para o texto ressonâncias da violência armamentista ligada aos Anos de Chumbo: lutar com palavras é a luta mais vista nos versos, o poeta está armado de palavras. Ademais, no correr do poema, tensões entre fala (arma) e silêncio (censura?) são colocadas. Vale lembrar, nesse sentido, que outros poemas do mesmo livro também lidam com a noção de silêncio, ganhando, metaforicamente, ampliações de sentido na poética de Armando Freitas Filho.