OUÇO RUÍDO DE TAMBORES
De repente, como um enorme ouriço
atirado para um canto,
a cidade morre,
com o sangue latejando
nos anúncios luminosos.
Nesta hora litúrgica,
ouço ruído de tambores.
Saio então às ruas
e procuro meus iguais,
para juntos sublevarmos a cidade.
Agimos de madrugada,
em pequenos grupos,
e cada comando tem os bolsos
carregados de poemas,
para serem lidos nas esquinas,
furtivamente.
Ah, duros tempos
em que é crime
escrever demasiado claro!
Vem, companheiro;
esgueira-te nas sombras
e atira tua rosa
ao ninho de metralhadoras.
Vamos explodir de anseio
debaixo das pontes
e atacar sem trégua, até o último verso.
Avante, companheiros!
Cantemos bem alto,
que a beleza mata
e o riso fere mais que a baioneta.
Levemos de vencida
os velhos renitentes.
Marchemos com um ritmo tão alucinante
que os ancilosados se desmanchem
numa vertigem.
Estalemos os dedos
até a carne verter sangue
e dancemos à volta do inimigo,
incendiando a relva sob os pés.
Venha quem quiser enquanto há tempo;
e saibam todos que, chegada a hora,
não faremos prisioneiros.