Os mil e um escrúpulos
Bicho-
zinhos de concha
suas
crises de consciência
(uma ova)
a corola
onde sonham a vida cheia
de temerárias empresas.
Acaso a dos esplêndidos
fazedores do diário,
sujos até o pescoço?
Não.
Isto são os políticos,
que
não
en-
tendem.
Atravessar o mundo
com um novo raio?
Enquanto a ciência inventa
e a técnica planeja
onde estão eles?
dentro
dentro
de dentro
rilhando
rilhando
os dentes.
De dentro da casca anunciam: a linguagem está em crise
o ato de criar está em crise
a crítica está em crise
o mundo está em crise
Messias
reumáticos e curvos sob o túnel
salvam —— por antecipação ——
o mundo.
Em gritando muito alto
porém
vão presos pelo desrespeito.
Alegram-se e é quando
tornam-se verdadeiramente inocentes;
e se acreditam quase
sérios, na acepção das togas
e temíveis, na acepção das lâminas.
Eu os desprezo.
Em princípio sou um deles.
Sei do estranho desencontro
entre a palavra audaz: projétil,
e o sol se pondo.
Sei de seus braços
a serem abertos como asas
incomensuráveis.
Um dia.
Por que não liquidar de pronto
com toda a pretensão e a manha?
Escrever sem desculpas mais,
parênteses, inúteis voltas,
explicações à margem,
complicados exercícios
de modéstia ou auto-estima
ou então isto:
Um mundo imediato nos precisa
de dentro
da fedentina do Juqueri, do pasto
da velha devorada pelos bichos
e dos guris que desovam: choro.
Ou isto —— e —— coragem
ou coragem de se saberem
nunca isto.
Bicho-
zinhos de concha, sempre
ampliando a curva de um mundo
de que destoam —— sempre.
Intelectuais, artistas
hum, artistas, artistas,
sua utilidade nunca
será aferida de vez
como desejariam sensíveis moluscos
construídos de matizes
e a dúvida
o espanto
a insubmissão
a crítica
lhes deverá servir apenas de capítulos
à estória —— breve
de uma consciência dentro
do ro-
çagante invólucro
dos mil e um escrúpulos.
Se cada um
tanto quer que o seu trabalho
seja como
um qualquer outro trabalho,
não choramingar tanto debruçado sobre
o mundo
nem o respingar com o seu catarro
nem ter a pretensão de o resolver
e o assumir em todas
as suas mínimas e maiores culpas
o nariz gotejando no papel: culpa por culpa
e a vetusta fisionomia de excremento
se fazendo História.
(Arqueólogos e Arquivistas
decifradores
vinde
como moscas.)
Ora
Quanta fita para se decidirem, eles,
Como são puros afinal e raros
Tal e qual a bisavó virgem —— rezam as crônicas ——
antes de se atirar de um pulo
sobre o dossel de aranhas, varando a renda,
lacerada?
a carne vertendo,
sangue?
Nem.
Nada.
Ni-na
nâ-na
renda
rede
en-
redando
tra-
balhando
em-
balando: FUTURO