OS MENINOS DO AMANHÃ
Para Jorge Amado,
exemplo de amor à Pátria
e ao povo da Bahia.
Será necessário que construam
milhares de cadeias
para impedir a resistência
dos que virão com sede de justiça,
os que nascerão no amanhã.
Os meninos possuídos pela desgraça
se multiplicarão como os peixes,
habitando os rios do mundo,
fertilizando as terras,
alimentando os famintos
e movendo montanhas.
Os meninos do amanhã
virão independentemente
dos ferreiros que constroem as grades
dos cárceres ensangüentados,
dos generais com medalhas
luzidias ao peito,
dos vencedores que vomitam
cólera sobre os vencidos,
das covas rasas
sem ataúdes,
sem cruz,
sem notícias.
Os meninos do amanhã
virão sem temer os tiranos,
sem temer os fuzis.
Abrirão a carne para esperar
as balas que serão cuspidas
de volta sobre seus assassinos
que fugirão em pânico…
Os meninos do amanhã
virão com seus pesadelos
e suas esperanças,
destruindo a estupidez
e a selvageria para aumentar o lucro,
aumentar a legião de famintos,
aumentar a fome,
aumentar a tirania,
aumentar a miséria.
Os meninos do amanhã
virão na primeira alvorada,
quando o novo dia invadir
as casas
e os moradores
com o clamor da Liberdade.
Oh!... Meninos do ventre do mundo,
que repousam em sua via-láctea,
livrem-se do sono
que a vida espera por vocês,
esperam por vocês
os que se perderam na procura
da luz do fim do túnel,
as mulheres que choram rios
de sangue sobre os corpos
e as crianças órfãs
que peregrinam pelas calçadas.
Esperam por vocês
às tardes de agonia,
as noivas sedentas de amor
e os avós que afagam lembranças
dos netos queridos.
Esperam por vocês os oprimidos,
os que imploram nos corredores,
os que se alimentam no lixo,
os que procuram seus irmãos.
Oh!... Meninos do amanhã,
quebrem os grilhões da tirania
e libertem os mártires
da esperança que germina
no peito de cada ser,
libertem os filhos das noites,
os que vomitam as entranhas,
os que perderam a dignidade,
os que conheceram o infortúnio.
Oh!... Meninos do amanhã,
libertem os que procuram em vão
pela felicidade perdida,
os que semeiam a paz
e os que agonizam nas prisões.
Oh!... Meninos do amanhã,
venham libertar o mundo.
São Mateus-ES, 10.7.68