OS EXPLORADOS
“São os guerreiros ousados
que com os tigres mosqueados
combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos…
Hoje, míseros escravos,
sem luz, sem ar, sem razão…”
Castro Alves
Os explorados ajoelham-se
frente os exploradores,
lustram os seus sapatos,
que caminham sobre os ombros
de milhões de famintos,
milhões de vencidos,
milhões de mortos,
para o panteão da glória
do capital sobre o trabalho.
Os explorados curvam-se
diante das leis,
que são aplicadas com rigor
e injustiça conhecida
contra os que entregam
o destino aos senhores.
Os explorados peregrinam
pela vastidão do País,
que distribui as terras
entre uns poucos com muito
e reserva os morros
e os manguezais das cidades
para uma legião de miseráveis
que se alimenta do resto
das iguarias jogadas
nas latas de lixo do regime.
Os explorados com seus salários
de fome
constroem ruas,
avenidas,
pontes,
viadutos,
praças,
monumentos,
estádios,
mausoléus,
galerias,
edifícios,
para dar nome aos tiranos,
para homenagear o ofício
da repressão sobre a vida
dos que se rebelam
nas fábricas,
nos latifúndios,
nas cercanias,
nas esquinas,
nas escolas,
nas prisões,
nas redações dos jornais,
frente os torturadores,
diante dos tanques blindados,
do regimento assassino,
dos tribunais corrompidos,
dos algozes encapuzados.
Os explorados fertilizam
os chãos com os corpos
para germinar a esperança
que inundará os campos,
que ecoará pelos vales,
os labirintos,
os esconsos,
os becos,
os esconderijos,
espalhando-se pelas pessoas,
tentando impedir a exploração
do homem
pelo homem,
pelo homem,
pelo homem…
Os explorados um dia
estancarão a fome
no desejo dos miseráveis,
e resgatarão a dignidade
no peito dos esvaídos.
Um dia,
o direito à vida
haverá de ser maior,
bem maior,
que o dos assassinos.
Um dia,
os explorados
olharão nos olhos
de todos os exploradores
com repugnância
e desprezo…
— É o dia que faltava no mundo!
— É o dia que faltava no mundo!
— É o dia que faltava no mundo!
Rio de Janeiro, 18.9.71