Os explorados

Maciel de Aguiar

OS EXPLORADOS

 

“São os guerreiros ousados

que com os tigres mosqueados

combatem na solidão.

Ontem simples, fortes, bravos…

Hoje, míseros escravos,

sem luz, sem ar, sem razão…”

Castro Alves

 

Os explorados ajoelham-se

frente os exploradores,

lustram os seus sapatos,

que caminham sobre os ombros

de milhões de famintos,

milhões de vencidos,

milhões de mortos,

para o panteão da glória

do capital sobre o trabalho.

Os explorados curvam-se

diante das leis,

que são aplicadas com rigor

e injustiça conhecida

contra os que entregam

o destino aos senhores.

Os explorados peregrinam

pela vastidão do País,

que distribui as terras

entre uns poucos com muito

e reserva os morros

e os manguezais das cidades

para uma legião de miseráveis

que se alimenta do resto

das iguarias jogadas

nas latas de lixo do regime.

Os explorados com seus salários

de fome

constroem ruas,

avenidas,

pontes,

viadutos,

praças,

monumentos,

estádios,

mausoléus,

galerias,

edifícios,

para dar nome aos tiranos,

para homenagear o ofício

da repressão sobre a vida

dos que se rebelam

nas fábricas,

nos latifúndios,

nas cercanias,

nas esquinas,

nas escolas,

nas prisões,

nas redações dos jornais,

frente os torturadores,

diante dos tanques blindados,

do regimento assassino,

dos tribunais corrompidos,

dos algozes encapuzados.

Os explorados fertilizam

os chãos com os corpos

para germinar a esperança

que inundará os campos,

que ecoará pelos vales,

os labirintos,

os esconsos,

os becos,

os esconderijos,

espalhando-se pelas pessoas,

tentando impedir a exploração

do homem

pelo homem,

pelo homem,

pelo homem…

Os explorados um dia

estancarão a fome

no desejo dos miseráveis,

e resgatarão a dignidade

no peito dos esvaídos.

Um dia,

o direito à vida

haverá de ser maior,

bem maior,

que o dos assassinos.

Um dia,

os explorados

olharão nos olhos

de todos os exploradores

com repugnância

e desprezo…

É o dia que faltava no mundo!

É o dia que faltava no mundo!

É o dia que faltava no mundo!

 

Rio de Janeiro, 18.9.71

Você também pode se interessar por

— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

Bolsistas de apoio técnico (FAPES)

Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

Além dos nomes acima muitas outras pessoas colaboraram com o projeto. Para uma lista mais completa de agradecimentos, confira a página Sobre o projeto.

O MPAC é um projeto de caráter científico, educativo e cultural, sem fins lucrativos. É vedada a reprodução parcial ou integral dos conteúdos da página para objetivos comerciais. Caso algum titular ou representante legal dos direitos autorais de obras aqui reproduzidas desejem, por qualquer razão e em qualquer momento, excluir algum poema da página, pedimos que entrem em contato com a nossa equipe. A demanda será solucionada o mais rapidamente possível.

— Financiamento e realização

© 2025 Todos os direitos reservados