Os Espantalhos
Geométricos, nosocômicos, friíssimos,
defesos ao saque imponderável dos pássaros,
murcham os bosques do excesso de assepsia.
O veludo exato, impecável da relva
— cerca —
estes outros implumes pássaros amanhecentes.
Privados do comércio do verde,
amarelecem.
E nem nos resta azul — virá o dia
em que gigantescas tabuletas gritarão,
interceptoras:
PROIBIDO OLHAR O CÉU
E inventarão processos especiais para tolher o olfato,
e cobrar-se-á pedágio nas praças,
e pela brisa nos cabelos descontar-nos-ão imposto na fonte
(adicional de 30% para os comedores de brisa!).
Coíba-se o coito (há tanta gente…)!
Risque-se o verbete
amor
dos dicionários! Em compensação,
inscreva-se
delatar!
do frontispício ao cólofon.
E assim murcharemos, submissos,
e empalideceremos,
até exaurir-se a noite, no amanhecer que a justifique.
Quando os espantalhos arderão na treva
pra iluminar a grande festa dos homens.