OROGRAFIA
Os morros descarnados ficam de esqueleto à mostra.
MIRIAN DE BARROS LATIF
(As Minas Gerais)
Espinhaço
espinho e aço
espinho e osso
espinho e fosso
espinho ácido
espinho árido
espinho ávido
espinho nosso
Serra da Canastra
cédula na canastra
senha da cabala
cela do caraça
ceva dos capachos
sesta dos comparsas
sede dos canastras
sérios e canalhas
Mata da Corda
marca da cobra
mastro da corja
maça da cólera
máquina do cômputo
mama da côngrua
manta da cópula
mapa da cova
Caparaó
caçar é a ordem
alcançar é a ordem
calcar é a ordem
cascar é a ordem
castrar é a ordem
calar é a ordem
caiar é a ordem
Espigão Mestre
espião à mostra
escorpião à mostra
expirar à mostra
espiral da morte
estirão da morte
esperar a morte
expiar a morte
Mantiqueira
homem e esterqueira
homem e torpeza
homem e torpor
homem ao termo
homem sinete
homem-tinteiro
homem trincheira
Comentário do pesquisador
O poema “Orografia” realiza uma escrita interessada na descrição de montanhas de Minas Gerais. As estrofes lembram – visualmente e tematicamente – picos, formando uma serra textual. Entre as referências está o “Caparaó”, região montanhosa da Zona da Mata de Minas, local em que aconteceu a Guerrilha do Caparaó, movimento revolucionário com intenções de derrubar a Ditadura Militar.