O TESTEMUNHO, JOÃO
Antes de tudo
somos testemunhas.
E acusados,
não acusadores.
Nosso silêncio é impregnado
da voz do que vemos
quando nos retém calados.
Impõe-se a unanimidade.
Como a estrada,
a fila, a boiada
que se sucedem
a si mesmas.
Mas nós ouvimos
a palavra desgarrada
e a dissonante claridade.
O passado nos cerca
por todos os lados.
E o futuro
plantado no fim
de uma linha reta,
é curvo. Cumpre
informá-lo, dar-lhe um rumo
e encruzilhadas que recolham
o homem que se encaminha
com seus próprios passos.
Além da enxada, João,
êsse é nosso trabalho.
Exige-se que não surjam
testemunhas.
Réus e acusadores
em dois extremos que se apontam
sem se levar a têrmo:
O destino se move em zig-
zag, como um desenho
grego.
Delegados do dito
e do não dito,
fala-se por todos.
Os que cresceram
por verbos ásperos,
deixando o indiviso
da infância
devem se calar
se a fala não entoa
nessa nova ciranda.
Andaremos, João.
Com teu carvão
e meu poema
há de lavrar-se
o avêsso do que canta
e emudece na pessoa.
A testemunha consiste
em seu exílio.
O chão da pátria,
sôlto dos pés
é outro chão,
de onde crescem indícios.