O QUE RESTA
O tempo se passa
e o tempo se passou
uma vida se vai
uma vida se foi
nos meus longos cabelos
cabresto humano em cela de suplícios
nos meus romances rasgados
de amores partidos
nas sequelas desgastantes
da fome constante de protesto
em 12 dias, 25, 18 e 23 dias
nas cicatrizes dalma e corpo
– mais nalma que no corpo –
dos suplícios nefários
em casernas prostituídas
de um exército de magarefes e
esquadrão de voadores carniceiros
das “gloriosas” armas nacionais.
O tempo se passa
e o tempo se passou
uma vida se vai
uma vida se foi
nos ressentidos do peito
pelo sofrer do povo “distante”
aqui alcançando-me
no sentimento ferido
pela filha arrebatada...
mãozinhas, lábios e vozinha distantes
frágil corpo-joguete
de interesses insanos.
Na inaceitável “inatividade”
pelo tempo, de grades, “eterno”
e espaço saudoso de bravos companheiros
que já não verei mais.
Pelas lágrimas pensadas vertidas
de mães em luto carpentes
e amorosos familiares distantes.
O tempo se passa
e o tempo se passou
uma vida se vai
uma vida se foi
na luta feroz
marolas da história
tragando homens e máquinas
erigindo “monumentos”
valores pisando e
odientos sobrelevados
na argamassa do mosaico
da humanidade montando
e os vagalhões históricos
tragando e vomitando
tragando impostores hoje
escória lançada por terra, alfim.
E o tempo passa
e o tempo passou
uma vida se vai
uma vida ficou.
Itamaracárcere, 19/05/78.
Emil