O poeta um dedo-duro
o poeta
um dedo-duro
do real?
deve meter
o dedo em tudo?
primeira vítima
a verdade
o real
a realidade?
o poeta
um cara cheio de dedos?
um rival
do real?
deve tocar
o dedo na ferida?
o inferno?
entre o anular e o indicador
o dedo médio?
Comentário do pesquisador
O poema, publicado em um livro de 1983, abre diversas questões muito fortes para os Anos de Chumbo, não chegando a fechar uma resposta absoluta. Quando a figura do delator (o dedo-duro) é emblemática na história do país, o eu poético de Bonvicino cogita se o poeta é um dedo-duro, além de performar outros tensionamentos entre literatura e realidade. No entanto, o dedo-duro mencionado no texto varia desde o posto de delação, como alguém favorável aos empreendimentos do sistema político, até o posto de recusa, como alguém que aponta o dedo médio para o sistema (dedo central da mão, aquele utilizado para expressar a ofensa, não raro machista, "vai tomar no cu").