O poema que pretendo
se perde ou se escreve
no ar
ligeiro, com o giz do relâmpago
do raio —— ágil —— do laser
do não luar, elétrico
e se escreve a carvão
nas margens plácidas
do mapa do Brasil
ao acaso
com lápis infernal, preto
zero, do trovão
o poema se perde
no rascunho da tempestade
se rasura
no cinza chão das nuvens de chuva
no caderno de folhas falsas
do vento
com palavras voando
para fora de qualquer alcance
da lembrança:
papéis, apelos, espelhos
como as últimas, íntimas
trovoadas perdidas
ao longe
no quadro-negro do céu.
Comentário do pesquisador
O texto contrasta "margens plácidas / do mapa do Brasil" (ironicamente lidando com o Hino Nacional, uma vez que o país passava por uma série crise política, não havendo no momento a suposta placidez) e a escrita "com lápis infernal" (sinalizando o gesto potente do autor, gesto de quem escreve a carvão, com letras negras, sujando as margens ditas plácidas, indo contra elas).