O pobre no supermercado

Paulo Mendes Campos

O POBRE NO SUPERMERCADO

 

Que belo o Supermercado!

Que sonho azul e dourado!

 

Que vergel de luz e cores!

Que paraíso de amores!

 

As sopas nas lindas latas

não são sopas, são sonatas!

 

Este blues por telefone

dá mais charme ao minestrone!

 

(O pobre só compra sopa

quando lhe dá uma louca!)

 

Tem o mistério das grutas

a polpa agreste das frutas!

 

Nossa cultura cristã

deu saída na maçã!

 

O figo é feito de amor,

de luz, de folha, de flor!

 

(O pobre come condêssa

quando acerta na cabeça!)

 

Como uma série de beijos

fermentados são os queijos!

 

O camembert é um mundo

violento mas profundo!

 

Limburgo, reno, emmental,

sardo, gruyère, nacional!

 

(O pobre andando na linha

come feijão com farinha!)

 

Fulgem os frascos franzidos

dos licores coloridos!

 

Ó marasquino divino,

ó divino marasquino!

 

No vinho vai um memento

já do Velho Testamento!

 

(Quando o pobre perde a graça

manda brasa na cachaça!)

 

Que concreta tessitura

veste o verde da verdura!

 

Rabanetes rechonchudos

com repolhos repolhudos!

 

Com tomates rubicundos

enxangues nabos jocundos!

 

Se há Van Gogh na batata

Cézanne em couve arrebata!

 

Se não torce pequenino

dá Picasso no pepino!

 

(O pobre sem cão nem gato

caça abóbora no mato).

 

Carne fraca como a rosa

de Malherbe mas gostosa!

 

O céu da bôca se estrela

na ternura da vitela!

 

Mil orelhas salgadinhas,

rabos, perus e galinhas!

 

O rabo do porco é nada,

mas vá fazer feijoada!

 

Das essências animais

se faz a fé dos frescais!

 

Desenrolada na rua,

a lingüiça iria à Lua!

 

Do patê ao salaminho

bebe-se um longo caminho!

 

(Ninguém na lata de lixo

achou salsicha ou chouriço!)

 

Os temperos são pecados

dos timbres mais variados!

 

(O pobre toca trombeta

com pimenta-malagueta)

 

De jasmins é feito o lado

tão alado do linguado!

 

Lado a lado do linguado

o gamado namorado!

 

Longe do peixe mais lírico

jaz o bacalhau satírico!

 

Com que fio entreluzido

é o badejo tecido!

 

Tem cherne para peixada,

tem lagostim para nada!

 

Scomber scombrus (sardinha),

corvina, atum e tainha!

 

(Quando pode com vinagre

o pobre deglute bagre!)

 

Os olhos do polvo têm

como os do povo desdém!

A julgar por seu olhar

nunca leu Homens do Mar!

 

A lagosta com seu ar

da rascante flor lunar!

 

(O pobre leva rabalo

quando acerta no cavalo!)

 

Como é doce, doce, doce

a prateleira de Doces!

 

O banquete se respalda

com as ameixas em calda!

 

Que celestiais colméias

zumbem no mel das geléias!

 

(O pobre quando fatura

defende na rapadura!)

 

Que paraíso de amores!

Que vergel de luz e cores!

 

Que sonho azul e dourado!

Que belo o Supermercado!

 

What a wonderful Supermarket!

exclama o pobre (tarado)!

 

What a wonderful Super Super

Super Super Supermarket!

 

(O pobre quando não come

castiga inglês mas de fome!)

 

(Coro, cívico, replica):

IN BRAZIL... NÃO HÁ MAIS FOME!!!

 

(Coro, tímido, treplica):

HÁ... SÓ... GENTE... QUE... NÃO... COME...

 

 

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— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

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Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

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