O METAPEIXE
Ao abrir com a faca
um peixe na cozinha da manhã
minha mulher
achou dentro do peixe
vários peixes:
um ainda com o rabo entalado
na garganta do glutão
outro na barriga
e outro
no fim da digestão.
A faca brilha sob a água da torneira
que descerra várias vidas nas vísceras feridas.
Em breve o metapeixe
(como uma caixa chinesa)
com seus peixes embutidos,
sobre a mesa será servido,
até chegar à barriga de minhas filhas.
Compungidos
deglutimos o deglutidor assassino
sem perceber que um outro peixe
invisível
cumprindo a cronofagia
movimenta a guelra dos meses,
as presas e barbatanas da semana
e nos deglute
— sobre o mármore dos dias.