O general
O General da Triste Figura
Parece sobrenatural;
Não queiras ver em noite escura
O General.
É tão tacanha a catadura,
Tão torto o apêndice nasal,
Que de mais feio que a feiura
Só o General.
E como é burra a criatura,
Como é imbecil, como é boçal!
Deus certo fez uma rasura
Com o General.
Diz que água mole em pedra dura
Por fim perfura, o que é legal;
Mas dura mesmo é a investidura
Do General.
O panarício é um mau indício:
No corpo humano algo anda mal...
O General é o panarício
Nacional.
De onde saiu tamanho bruxo:
Mistério... Mistério medieval...
É um traste, é um couro, é um osso, é um bucho
O General.
Comentário do pesquisador
O poema está na seção "Papéis de versos" da antologia "Poesia: Paulo Mendes Campos" (2022). Os poemas dessa seção foram recolhidos por Luciano Rosa nos papéis do poeta, depositados no Instituto Moreira Salles - RJ (Acervo Paulo Mendes Campos). O poema "O general", diferente de alguns outros dessa seção, não possui data de escrita, mas optamos por inseri-lo no acervo Memorial Poético dos Anos de Chumbo dado o grau de explicitude do tema.