O Dia da Independência

Jorge Fischer

O Dia da Independência

 

Ah, falam tanto no Dia da Independência
Marcham os soldados, batem continência:
“Um viva ao general! Um viva ao Coronel! “
Os ínclitos tribunos assomam ao palanque
e leêm “de improviso” discursos no papel.
Há tanques pelas ruas
e os velhos generais
costumam esquecer
o crônico artritismo:
brandem espadas nuas
em gestos de heroísmo
e juram lealdade a deus, à pátria e aos pais.
O louro e sorridente embaixador ianque
confraterniza com a “nação amiga”.
Mas, entre a multidão, resmunga um operário:
“Que gringo de uma figa,
que gringo salafrário!”.
Além, de pé, entre o povo, palpita uma comadre.
Não vai embora: aguarda a benção do “sêo” padre.
E quando, enfim, assoma, redondo como um zero
o quengo tonsurado – o símbolo do clero –
as santas mãos cruzadas sobre a proeminência
do ventre romboidal – um poema de indecência –
a boca a mastigar a frase decorada
deitando falação – mas sem que diga nada –
na fria objurgatória do seu latim de festa,
é o triunfo!, é a apoteose!, é a benção clerical
que, mais que tudo, atesta
que Cristo está de bem com nosso general.
Depois, a tal comadre, com ar bem satisfeito,
retira-se: já viu o padre e até o prefeito
e o louro e sorridente embaixador ianque.
À tarde, quando for lavar roupa no tanque,
há de esquecer a dor das crônicas varizes,
sentir-se-á a mais feliz de todas as felizes
e dirá consigo mesma, redonda de alegria:
– “Ah, tudo foi tão lindo! Isto é que é democracia!”

 

O Sete de Setembro, de fato, é bem festivo:
tem muito carnaval, tem muita alegoria.
Mas… Dia da Independência, meus camaradas?
Quando é que vamos marcar este dia?

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— Colofão

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Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

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Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

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