O ALMIRANTE
(Para o Almirante Maximiano da Fonseca)
O almirante
era sorridente
e falante,
era marinheiro:
foi queimado ontem
entre caras carrancas
de concreto armado,
bem longe daquelas
que salvam barqueiros,
canoas, cebola,
batata e farinha
no Rio São Francisco;
o almirante
que acendeu sorrindo
o cigarro civil
de um civil guerreiro,
foi queimado ontem,
amarrado ao mastro
que pendia à destra
de um país inteiro.
Comentário do pesquisador
O almirante Maximiano da Fonseca foi militar da Marinha do Brasil e ministro da Marinha no governo do general João Figueiredo (1979-85). Em março de 84, porém, ele foi exonerado do cargo por ter apoiado as manifestações pelas eleições diretas para presidente da República. Em setembro de 96, Fonseca defendeu a extinção da indenização aos familiares dos guerrilheiros Carlos Marighella e Carlos Lamarca, mortos durante o regime militar, que fora decidida dias antes pelo governo. Seu nome está entre os 377 agentes do Estado apontados no relatório final da Comissão Nacional da Verdade como responsáveis por crimes cometidos durante a ditadura militar.