Nova presença do mundo

Eduardo Alves da Costa

NOVA PRESENÇA NO MUNDO

 

 

 

 

Para meu povo advogo

nova presença no mundo.

 

Os canhões têm sua voz,

os capitais capitães

e a morte generais.

O que temos nós?

 

Vamos à ONU de casimira inglesa

e nos sentamos à mesa

com os maiorais.

 

Mas acabado o discurso,

comemos na cozinha.

 

Nossos ministros se confundem

em vários idiomas,

discutem Robbe-Grillet

e reencontram companheiros da Sorbonne

ao som de cubos de gelo.

Às vezes têm saudades

dos serões da província.

Mas, por mais que alisem o cabelo

e policiem o sotaque,

não podem esconder a condição de mulatos,

representantes de uma república

movida a carvão.

Ah, como eu os compreendo,

eu, poeta, bacharel e branco,

educado nesta Europa meridional,

nesta São Paulo casa-grande

tão à margem da senzala.

Compreendo, mas não perdôo

como também não me perdôo

pelos meus refinamentos

e por esta nostalgia,

este banzo ao contrário

por uma terra estrangeira

de onde nos vem a cultura

mas tão distante do sangue.

 

É hora de acordar o bugre

e mandá-lo, assim, de tanga,

na sua crua verdade,

embaixador da miséria

e desta falta de fibra

que nos avilta e consome.

 

Para meu povo advogo

um pouco menos de fome,

um pouco menos de ajuda,

um pouco menos de leite

que de tão fotografado

me faz azedar o estômago;

um pouco menos de armas,

obsoletas, manetas,

que se tornam pó de traque

na cara de quem atira

e custam os olhos da cara.

 

Para meu povo advogo

uma peste de cartilhas,

uma praga de ferramentas

e um pouco menos de pastilhas,

xaropes e outros macetes

da farmacopéia Rockefeller.

 

Para meu povo advogo

a voz e o voto;

uma voz sem impostura,

empostada e não imposta.

 

E mais: uma lei exata

que se lance como um prumo

e que ao exame do olho

não me ponha zarolho

de tão dúbia e sinuosa.

 

E um salário não tão mínimo,

que nele caiba completa

uma família operária

sem vales e sem susto.

 

Para meu povo advogo

uma nova mentalidade,

que faça da tribo nação

e da nação potestade.

Mas de gente companheira,

sem esnobismo, vaidade,

sem estátuas de liberdade

e slogans e advertisings.

 

Para meu povo advogo

não a iluminação divina

mas jovens iluminados

que saibam tomar o pulso

deste gigante enfermiço

e ministrar-lhe o laxante

para curá-lo de vez

das discórdias intestinas.

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— Colofão

Coordenação

Marcelo Ferraz (UFG/CNPq)

Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

Bolsistas de apoio técnico (FAPES)

Juliana Celestino

Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

Weverson Dadalto (IFES)

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— Financiamento e realização

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