NOTURNO
Em cada palavra um muro
em cada palavra um desterro
em cada palavra um escuro
em cada palavra um erro
em cada palavra um lodo
em cada palavra um turíbulo
em cada palavra um engodo
em cada palavra um patíbulo.
Falávamos de que mesmo? Ah, sim,
falávamos de amor e de beleza
ao som de uma sonata de Mozart...
Lá fora, além das janelas, a noite
ensinava-me a brutalidade de ver
o amor apodrecendo em preços remarcados
na vida vendida a peso nos mercados.
Lá fora, além das nuvens, a noite
era um cordão de estrelas torturadas
no pescoço de uma infinita música
enforcada
lado a lado com aquele nosso último
poema de areia feito em frente ao mar.