NOITES NA ILHA GRANDE — I
Quando eu disser sobre você em voz rouca
que te adoro
não acredite,
acredite só em meu corpo.
No leito todo o silêncio
estará repleto de palavras
e no lenço, a marca dos soluços
perpetrados contra o tempo.
Após a despedida
não terei mais onde me esconder.
As paredes ficarão tão pequenas
quanto o aceno final.
Então me deitarei de novo
no catre a contemplar
a cena silenciosa de espectros
no pátio.
Relembrarei todos os ecos perdidos
e as imagens de carinhos
recentemente urdidas.
Eu, o homem mais distante,
envolto numa nuvem de fumaça
dos cigarros consumidos,
rodeado de mosquitos e projetos,
sozinho,
quite com o amor e com a História,
eu, homem sobremaneira mais distante
da amada e do continente
que a média dos amantes desgraçados,
continuarei te amando.
Eu, o homem mais distante
e último habitante
da ilha mais distante
e infame
que ainda existe sobre a face da terra,
continuarei te amando
assim mesmo.