NO REINO DE SHANGRI-LA
As crianças sabem morrer
porque pouco aprenderam conosco,
porque não tivemos tempo
de estragar a sua morte.
Mas, alguém começa a reger,
onde quer que elas morram,
uma orquestra brutal.
E essa era uma noite
que prometia revelar
uma por uma suas estrelas,
que prometia revelar
aos seres extremos
uma por uma suas estradas.
Onde, as cidades, as aldeias,
sabiamente estagnadas
em sua inocência?
Para lá deveríamos transportar
os pequenos corpos arquejantes,
os pássaros velhos
e as folhas amarelecidas.
Seus dodges de luxo
já buzinam agora
para os portões dos fundos
da História.
Mas a raiva de certos séculos
enferrujou os ferrolhos,
modificou os mordomos,
forrou de ferro e fungo
o tempo da tolerância.
"Quem faz confusão
paga com o espinhaço"
disse-nos, do alto de suas omoplatas,
o leão de chácara do puteiro pobre.
E eles venderam tudo:
a mata, a meta, o mito
e o infinito.
E eles venderam tudo
ao povo e, depois,
venderam o próprio povo.
Venderam coisas
que não podem
comprar de novo.