Onde o homem, onde a mulher? Se
o que existe é um, onde o dois
que estava aqui, entre cambraias
gravatas na cadeira, sapatos sob a cama?!
Eu só faço amor para vencer a morte
a minha, a sua, a nossa morte, a deles,
a morte dos que morreram em nossa vida
a morte retratada, a morte
que nos cobra o fato de continuarmos vivos.
O poeta sabe, sua companheira nem sempre.
E não há porre no mundo que responda
ao desencontro assim, tão sem limites
nas explosões intemporais do ser
que não chegou de fato a ser.
Sob a lanterna vermelha dos altos edifícios
nas ruas apagadas, ou sob os fios
em que as veias do mundo choram o sol
ou na fachada fosforescente dos comércios,
a vertigem de viver nessa hora assume
uma vertigem igual aos atos de morrer.
Morrer de amor, de não-amor, por que?
Até a barata a se esgueirar nas pedras
segura a vida para o olho que a olha
e sabe olhar. Olhando com atenção
—— quanto de tempo humano nele existe? ——
até o palito de fósforo é uma âncora
para o homem que pensara em naufragar-se.