NAS ANTE-CELAS DO DOI
Era um claro campo aberto
de combate e valentia,
onde, ao meu corpo desperto,
se estreitava a ventania.
Não o capuz desta urna,
desta noturna cloaca,
febre e cruz de uma matraca
a martelar insistente,
a retesar meu ouvido
a penetrar-me na mente.
Não me queria perdido
nos lençóis do grande medo,
nos anzóis deste degredo
feito em minha própria terra.
Eu queria era uma guerra
cara a cara, faca a faca,
a arma em riste na mão.
Não queria o meu segredo
cercado de grade não,
cercado de grade, não.
Outra vez não era frio,
eu acordava tão doce,
que era como se fosse
um quintal atrás do rio
carregado de menina.
Era alegre a minha sina,
mas tão triste é o meu fado,
"Tanto sangue derramado
dentro do meu coração".
Tanto sonho assim cortado,
tanta roseira que eu via…
Minha vida está vazia,
cheia de recordação.
Era belo aquele dia
cercado de grade não,
cercado de grade, não.
Pelas frestas da parede
já me ronda o inimigo,
as trevas por meu umbigo
se enfiam com sua rede.
Eu só sei da minha sede,
do meu amor em perigo.
Corre, corre carcereiro
pela porta da agonia,
a morte me traz ligeiro
no metal de uma bacia.
Aquiraz, 21/4/79