Nação dos mortos

Alberto da Cunha Melo

NAÇÃO DOS MORTOS

(Dezembro de 1981)

 

Morremos muito:

milhões de vezes,

milhões de vozes

milhões de vultos;

morremos tanto

dentro das matas,

perto dos rios,

igarapés

e sombras quentes,

cheios de insultos;

morremos velhos,

morremos moços,

antes do tempo,

antes das lendas

que controlavam

o latejar

de nossos pulsos;

morremos antes

de nosso tempo,

e do triunfo

de nossas tabas

e dos tantans

de nossos deuses,

morremos antes

de ser expulsos;

morremos mesmo

muito mais fácil

que nossos peixes

e antes que o rosto

de nossos jovens

sonhassem um leve

e simples buço;

morremos todos

e do que nós

um pouco resta

é a lembrança

na pele e nos olhos

dos que comeram

nossas mulheres,

dos que comeram

ou abateram

nossas crianças;

morremos muito,

morremos à força,

morremos a pulso;

não mais morremos,

porque restavam

poucos de nós

que merecem

outro heroísmo

outra bandeira

de sertanistas

pra nos matar;

morremos muito,

morremos demais;

e o que de nós

um pouco resta,

mesmo que seja

por gentileza

de algum Rondon

deve ser livre

aqui, em trapos,

aqui, em paz.

 

 

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Coordenação

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Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

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Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

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