NA TERRA DOS BRUCUTUS
Na Terra dos Brucutus
quem tiver tacape é rei
para quem anda de tanga
a força bruta é a lei.
Na Terra dos Brucutus
os jornais não dizem nada
que o Rei-Brucutu não queira;
e o Conselho dos Pajés
não passa de brincadeira,
jogo sutil de palavras
que logo depois de impressas
nas folhas de bananeira
se tornam murchas, vazias.
Na Terra dos Brucutus
os nativos não conhecem
as coisas boa da vida
e cumprem suas tarefas
com a alma ressentida.
Os feiticeiros da tribo
prometem anos melhores
e contam a velha história
do povo Pele-Vermelha
que morreu a chumbo e fome
e hoje, com outro nome,
se vê coberto de glória.
Às vezes, no meio da taba,
confirmando a mesma lenda,
surge um guerreiro estrangeiro,
falando língua de gente;
mora na Praia Vermelha,
envolto em grande mistério
e dizem que o ministério
encarregado da guerra
nada resolve sem ele.
Na Terra dos Brucutus
ninguém se quer responsável
pela miséria da tribo;
acreditam na banana
como fator ponderável
no balanço das rações
e citam mesmo nações
que atravessaram o tempo
comendo apenas arroz.
A banana é tão saudável
— dizem os sábios da taba —
que tribo Pele-Vermelha
concede sua amizade
aos reis que fazem seu povo
plantar bananeira.
Na Terra dos Brucutus
o trabalho é planejado
por um nativo instruído
que passa os dias fechado
em sua bananoteca,
procurando a diferença
entre o ter e o não ter.
É um homem respeitado,
mais de um que de outro lado
do Grande Rio.
Às vezes sai de piroga
e se alguém o interroga
sobre as razões da viagem,
responde laconicamente:
A Balança Orçamentária.
Volta sempre com novo empréstimo
de ossos, conchas e contas.
Contas que são colares
para dobrar o pescoço
de tão pesados e caros.
Na Terra dos Brucutus
são assim todas as coisas,
de rara cosmogonia.
São quase pornografia,
de tão cínicas, fechadas,
girando sobre si mesmas.
Um reino tão desolado,
que a juventude da tribo
resolveu cruzar o rio
e esperar do outro lado
que o Rei e seus Pajés
morram empanturrados
de banana e decretos.