Na Terra dos Brucutus

Eduardo Alves da Costa

NA TERRA DOS BRUCUTUS

 

 

 

 

Na Terra dos Brucutus

quem tiver tacape é rei

para quem anda de tanga

a força bruta é a lei.

 

Na Terra dos Brucutus

os jornais não dizem nada

que o Rei-Brucutu não queira;

e o Conselho dos Pajés

não passa de brincadeira,

jogo sutil de palavras

que logo depois de impressas

nas folhas de bananeira

se tornam murchas, vazias.

 

Na Terra dos Brucutus

os nativos não conhecem

as coisas boa da vida

e cumprem suas tarefas

com a alma ressentida.

Os feiticeiros da tribo

prometem anos melhores

e contam a velha história

do povo Pele-Vermelha

que morreu a chumbo e fome

e hoje, com outro nome,

se vê coberto de glória.

 

Às vezes, no meio da taba,

confirmando a mesma lenda,

surge um guerreiro estrangeiro,

falando língua de gente;

mora na Praia Vermelha,

envolto em grande mistério

e dizem que o ministério

encarregado da guerra

nada resolve sem ele.

 

Na Terra dos Brucutus

ninguém se quer responsável

pela miséria da tribo;

acreditam na banana

como fator ponderável

no balanço das rações

e citam mesmo nações

que atravessaram o tempo

comendo apenas arroz.

A banana é tão saudável

— dizem os sábios da taba —

que tribo Pele-Vermelha

concede sua amizade

aos reis que fazem seu povo

plantar bananeira.

 

Na Terra dos Brucutus

o trabalho é planejado

por um nativo instruído

que passa os dias fechado

em sua bananoteca,

procurando a diferença

entre o ter e o não ter.

É um homem respeitado,

mais de um que de outro lado

do Grande Rio.

Às vezes sai de piroga

e se alguém o interroga

sobre as razões da viagem,

responde laconicamente:

A Balança Orçamentária.

Volta sempre com novo empréstimo

de ossos, conchas e contas.

Contas que são colares

para dobrar o pescoço

de tão pesados e caros.

 

Na Terra dos Brucutus

são assim todas as coisas,

de rara cosmogonia.

São quase pornografia,

de tão cínicas, fechadas,

girando sobre si mesmas.

Um reino tão desolado,

que a juventude da tribo

resolveu cruzar o rio

e esperar do outro lado

que o Rei e seus Pajés

morram empanturrados

de banana e decretos.

 

 

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— Colofão

Coordenação

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

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Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

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