MULHER DE BANDIDO
Mariposas em Copacabana
Maresia no vidro dos automóveis
Pivetes na avenida & armadilhas nas estradas
A cuíca ouriça o meu corpo
O apito é mais que um grito
Porrada é uma palavra bonita, aliás,
Bonita pra caralho, que é o melhor dos adjetivos
Eu sinto quando pressinto o perigo
Sinto a falsidade na voz do político
E a maldade nos olhos da freira
Sinto a malícia na lesa do pivete
Na passada de mão
Na contravenção
Sinto uma vontade louca de gritar no elevador
De correr pelos corredores
De abrir todas as portas
Sinto a certeza do santo
Na mágica do milagre
O sangue correndo nas veias
Sinto a tonteira da cachaça
Nas voltas da cabeça
E sinto não rodar mais
Rodar rodar rodar
Rodar e perder o eixo
Rodar e ainda ter peito de rodar mais
Comentário do pesquisador
Poema publicado no Almanaque Biotônico Vitalidade, pelo grupo Nuvem Cigana. A revista se apresentava como um “remédio” contra a repressão cultural da ditadura. Segundo Claudio Lobato (um dos idealizadores, capistas e ilustradores), em seu blog [https://claudiolobato.com/Almanaque-Biotonico-Vitalidade], o almanaque se pretendia uma paródia aos almanaques medicinais do século passado. “Contra aqueles que propõem a morte como única forma de vida” e “Contra o irremediável” eram algumas contraindicações da “Bula” do Almanaque. O poema "Mulher de bandido" se encontra na seção "Artimanhas almanaques e super Oito" de "Vida bandida e outras vidas", que abriga poemas esparsos de Bernardo Vilhena.