Muito além do túnel
as praias se apagam na lembrança
e o que sobe à tona
depois do naugráfio do mar
é a terra de ninguém
o mapa de pó, rasgado, o chão batido
as covas rasas, O Terrorama da Baixada
anunciando seus cadáveres:
secos, súbitos, recortados
impressos em preto-e-branco
com todas as letras garrafais
dos jornais que são só manchetes
ou cartazes, sem maiores explicações.
Comentário do pesquisador
O livro "3x4" é de 1985 e aqui Armando Freitas Filho já está um pouco mais distante dos poemas explicitamente vinculados aos Anos de Chumbo, como se via em livros anteriores. De todo modo, nesse "Muito além do túnel", aparece uma cidade que é "terra de ninguém" onde há "covas rasas" e notícias dos mortos os quais não possuem identidade. O corpo morto não identificado, ainda em 1985, é um tanto recorrente e, não raro, vinculada aos assassinatos dos Ditadores brasileiros dos Anos de Chumbo, o que, contextualmente, aproxima o poema e eventos políticos.