MARCHA NOTURNA
"A Revolução, sabes, é difícil!"
Ao companheiro Antonio Carlos Nogueira Ca-
bral, assassinado em abril de 1972 no Rio
Na marcha noturna
difícil é distinguir a cor dos olhos,
a forma do rosto de teus irmãos.
Alguma coisa, talvez a própria noite,
desenha-lhes o jeito igual
dos pássaros migradores.
Alguns carregam tochas,
as mãos negras de pó,
marcando a direção tomada.
Não há sinais de fadiga,
embora pese a ausência
dos mortos.
A treva não dissolverá
o vulto dos túmulos deixados
antes das montanhas.
O tempo exige olhos afeitos à escuridão
e sapatos habituados à marcha.
Não marca este caminho a hora da chegada.
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Comentário do pesquisador
Pedro Tierra é pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva. O poema "Marcha noturna" integra a seção “A hora do inimigo”, parte do volume “Poemas do povo da noite”. Na segunda edição desse livro (coeditada pela Fundação Perseu Abramo e pela Publisher Brasil, em 2009), há um texto introdutório, intitulado “Explicação necessária”, em que Pedro Tierra (Hamilton Pereira da Silva) informa: “Os poemas aqui reunidos foram escritos durante os cinco anos de prisão – de 1972 a 1977 – e publicados em volumes separados: Poemas do povo da noite (Ed. Livramento, S. Paulo, 1979), Água de Rebelião (Ed. Vozes, Petrópolis, 1983)” (2009, p. 19). A edição de 2009, que reproduz “Marcha noturna” na página 70, informa que esse poema foi escrito em 1974.