MARABÁ, MAR-ALÉM
— meu irmão, onde a guerrilha?
nas filipinas, manilha?
em terras que o mar não tem?
em bagdá ?
mar-além ?
se aqui é paz-maravilha
se a guerra aqui não faz ilha
onde a guerrilha está ? em
bogotá ?
jerusalém ?
onde a garra das guerrilhas ?
está nas ilhas, antilhas
ou ventos que aqui não vem ?
em al-di-lá ?
phonm penn ?
onde o povo sabe a trilha ?
além das duzentas milhas ?
além do sol ? mais aquém ?
no kohoutek ?
no além ?
— não, amigo, a tal guerrilha
está no mar, sobre as ilhas
e aqui bem perto também :
em marabá,
mar-aquém
EH MARABÁ
Eh Marabá
um canto rebelde a teus fuzis !
um canto global
cheirando a ar de madrugada
um canto dessa gente brasileira
de arrastão arrastando rede
barcaça subindo e descendo rio
um canto de enxada e suor na terra
aboio dolente ninando a noite
um canto dessa gente apressada das cidades
poluído com fumaça
chaminés e sirenes de fábricas
Eh Marabé
norte, bússola, bandeira
estrela da manhã
carta de marear
o teu povo se integra em ti !
Eh Marabá
do fundo da noite
da impotência do braço
longos anos te esperamos !
Mas hoje sabemos
que o teu braço de oprimido
é maior que o Empire State
que o clarão de mil napalma
devastando o matagal
Norte, bússola, bandeira
estrela da manhã
carta de marear
Eh Marabá
os oprimidos aprendem o caminho !