MAMÃE
Pra mim chega.
Seus cães policiais não vão mais farejar meu jardim
nem sacudir as pulgas do meu tapete voador.
Seu arame farpado não vai mais cercar vaca nenhuma.
Nunca mais vou medir os dias nem as pesadas noites
pela batida de um coração que apodrece.
E vê se não esquece
de retirar os corpos as manchas de sangue
os mapas irregulares que me destinam
a um país ocupado.
Chega de tímpanos estourados
chega de perder os dentes.
Vê se dá um basta nesse fodido medo.
As paredes revestidas
o algodão nos ouvidos
nada disso pode isolar o berro
o ruído animal que arrepia pêlos e espinha
gravado em cavernas abismos
gargantas.
Chega de carne moída chega de vida engasgada.
Hoje todo o seu povo
vivos e mortos famintos e doidos raivosos
faz as malas abre as veias
e volta pra casa de mamãe.
[E.A.]