mais uma vez junto ao mar polifluxbórboro polivozbárbaro polúphloisbos
polyfízzyboisterous weitaufrauschend fluctissonante esse mar esse mar
esse mar esse martexto por quem os signos dobram marujando num estuário
de papel num mortuário num monstruário de papel múrmur-rúmor-remurmunhante
escribalbuciando você converte estes signos-sinos num dobre numa dobra
de finados enfim nada de papel estes signos você os ergue contra tuas
ruínas ou tuas ruínas contra estes signos balbucilente sololetreando a
sóbrio neste eldorido feldorado latinoamargo tua barrouca mortopopéia
ibericaña na primeira posição do amor ela ergue os joelhos quase êmbolos
castanho-lisos e um vagido sussubmisso começa a escorrer como saliva e
a mesma castanho-lisa mão retira agora uma lauda datiloscrita da máquina-
-de-escrever quando a saliva já remora na memória o seu ponto saturado
de perfume apenas a lembrança de um ter-sido que não foi ou foi não-sendo
ou sido é-se pois os signos dobram por este texto que subsume os contextos
e os produz como figuras de escrita uma polipalavra contendo todo o
rumor do mar uma palavra-búzio que homero soprou e que se deixa transoprar
através do sucessivo escarcéu de traduções encadeadas vogais vogando
contra o encapelo móvel das consoantes assim também viagem microviagem
num livro-de-viagens na segunda posição ela está boca-à-terra e um
fauno varicoso e senil a empala todocoberto de racimos de uva e revoado
por vespas raivecidas que prelibam o mel mascavo minado das regiões
escuras dizer que essas palavras convivem no mesmo mar de sargaços da
memória é dizer que a linguagem é uma água de barrela uma borra de
baixela e que a tela se entretela à tela e tudo se entremela na mesma
charada charamela de charonhas carantonhas ou carantelas que trelam e
taramelam o pesardelo de um babuíno bêbedo e seus palradisos pastificiosos
terrorescendo os festins floriletos pois a linguagem é lavagem é resíduo
de drenagem é ressaca e é cloaca e nessa noite nócua é que está sua
mensagem nesse publiexposto putriexposto palincesto de todos os passíveis
excessos de linguagem abcesso obsesso e houve também a estória daquele
alemão que queria aprender o francês por um método rápido assimil de sua
invenção e que aprendia uma palavra por dia un mot par jour zept mots
jaque zemaine e ao cabo de um mês e ao fim de seis meses e ao fim e
ao cabo de um ano tinha já tudo sabido trezentas e sessenta e cinco
palavras sabidas tout reglé en ordre bien classé là voui là dans mon cul
la kulturra aveva raggione quello tedesco e a civilização quero que se
danem e é sarro e barro e escarro e amaro isto que fermenta no mais
profundo fundo do pélago-linguagem onde o livro faz-se pois não se trata
aqui de um livro-rosa para almicândidas e demidonzelas ohfélias nem de
um best-seller fimfeliz para amadores d'amordorflor mas sim de um
nigrolivro um pesteseller um horrídeodigesto de leitura apfelstúrdia
para vagamundos e gatopingados e sesquipedantes e sestralunáticos
abstractores enfim quintessentes do elixir caximônico em cartapáceos
galáticos na terceira posição ela é signo e sino e por quem dobra
Comentário do pesquisador
A "cronologia dos textos", ao fim da coletânea, informa que o poema foi escrito em 1970.