LXIII
Exilado no exílio de todos os exílios
que em mim não findam mais
e são eternos
porque neles morrerei e para sempre
no meu tempo morto eles serão
— imutáveis —
os exílios que sempre foram
dentro de mim, quando eu vivia
como a flor que ao ser regada pela sombra
lembra
as exigências de sol sobre o seu caule
— e em direção da aurora se prolonga.
M. F.
Rio, 27 de fevereiro de 1977
Comentário do pesquisador
Esse trecho pertence ao longuíssimo poema de 88 páginas, publicado em 1977, intitulado "Canção do exílio aqui ou Alguns elementos para o inventário de uma geração nesta cidade do Rio de Janeiro". Todo o texto se ergue a partir de uma construção paralelística em que todos os versos se iniciam com as mesmas palavras "Exilado no/a", que indicam a condição de estranhamento e deslocamento do poeta frente ao seu tempo. Como apontado por Alceu Amoroso Lima (1977), no prefácio do próprio livro que abriga o poema, não se trata de um exílio espacial, mas de um exílio no próprio tempo e nas instituições sociais dominantes. O trecho destacado acima se encontra na seção "Conclusão", do livro-poema, e são os últimos versos do mesmo. Cabe lembrar que a obra inteira tematiza a vida, o cotidiano e a história durante o período da ditadura militar, fazendo referência direta a inúmeros acontecimentos e figuras da época. Por conta da extensão do poema, que inviabilizaria a sua publicação na íntegra, foram selecionados apenas alguns trechos para compor o Memorial Poético dos Anos de Chumbo.