luto
por toda a catacumba
contra tudo o que avança:
mão, mancha ou gancho
com o escudo de pele e escuro.
Está aqui o fantasma
que procuro, ferrão
de sombra em sua furna
cavada no sonho do meu sono
e a cada golpe eu respondo
com meu nome, com a arma
que desfere
unha e dente sobre o corpo
sem marca, sem feitio e que
navalha, eu retalho, corto
a fundo, mas minha fúria
somente fura o vazio desta carne
feita de fuga, disfarce e nada
e o gesto —— gume agudo e cego ——
sem alvo, só fere a mim:
franjas do meu próprio sangue
mas continuo: de luto eu
luto
Comentário do pesquisador
É difícil dizer se "[luto]" corresponde a um poema inteiro ou a uma parte do poema/seção "Dr. Acaso". De todo modo, em tal provável seção, "[luto]" é um ponto em que fica evidente a relação com os Anos de Chumbo. Cabe ao leitor o convite para ler todo o livro "À mão livre", de Armando Freitas Filho, obra cujo título parece, ao mesmo tempo, fazer o elogio de uma técnica artística (mão livre) e de uma posição não só política (liberdade). O eu poético em "[luto]" mescla a dor e o vigor, a tristeza do luto e a força da luta.