Talvez não tenhas nunca me amado.
Em mim não houve amor nem desamor.
Todavia, não ouvi falar de pessoas
que se quisessem como nós
em nossas direções desencontradas.
Não é temendo sofrimento que procuro
fugir de todo raciocínio retilíneo...
Tu terminavas te abrigando em meu abraço,
mas estavas sempre fugindo de mim,
de ti, de tudo que perdurasse no tempo.
Se na estrada de Ilhéus eu te encontrasse,
quiçá já fôssemos dois desconhecidos.
Somente no secreto sinal de teu semblante
eu recordaria aventuras inconsequentes
e nosso processo de impedir a concepção.
Tu és a mulher que continuo querendo
quando estou triste de não ter jeito.
Se não posso ter-te, não possuo cama
e não tenho direito a qualquer escolha,
é que nunca fui nem vou ser amigo do rei.
Presídio Central de P. Alegre (RS), 1974