LINGUAGEM DESARMADA
não sou senão a estupefação das horas
que escorrem nodosamente sanguinolentas.
senão a vontade desarmada
de uma linguagem poética
para dizer a nudez do meu tempo
sou a caminho do sol
o susto da sombra e da forma
que me limitam e engolem
sou marasmo e amálgama
das dores que os mortos
não tiveram tempo de gemer.
silêncio
omissão
fuga impossível
sou estupefação sanguinodosa
no lodo do meu tempo
sou um triste a menos
na roda de samba e cachaça
sem meu tempo.
agosto, 1977