JUAN
Os carrascos estão mudos, Juan.
Há o medo, o medo estampado,
gravado, esculpido no rosto
eternamente com teu sangue, Juan.
Eles não compreendem teu canto,
teu punho erguido diante do muro.
Não sabem que nada podem contra ti.
Por isso não compreendem
como, um dia depois da morte,
estás nas barricadas de Paris,
tua mão distribui sementes de fogo
pelas embaixadas da morte.
Teu canto se multiplica na boca
das cidades rebeladas.
O mesmo canto que, ontem, parecia solitário,
irremediavelmente condenado
a morrer na morte de teu corpo.
Não podem compreender
que teu agasalho tecido
de amor, silêncio, lágrimas
e na profunda lã de Biscaia,
pelas mãos torturadas de tuas companheiras,
te faz invulnerável.
Retiraste deles o poder de matar,
seu eterno ofício.
Já não podem esconder as mãos ensanguentadas.
Há o medo, o medo gravado, estampado,
esculpido nas mãos trêmulas.
Hoje Juan, quando estiveres comandando
uma barricada ou uma greve,
lembra-te de meu povo martirizado,
eu juro que ele não se rendeu!
Meu verso sobreviverá
porque falou de tua grandeza!
Porque Juan Paredes Manot
não morrerá nunca!
(setembro/75)