JOVEM DESCALÇO CAÍDO
NA CALÇADA
1
Jovem recém-morto,
um riso
torto
entre o céu e a lei.
Sinais roxos de bala
no peito, mais nada.
Caído na calçada.
Junto ao palavrão
que
amanheceu escrito
no muro de dom Xis-
to,
El-Rey.
Quem será?
Não
um simples cadáver
(via-se) mas um corpo
na calçada,
com uma flor na
mão.
2
Morto sem gravata.
Sem relógio de
pulso.
Sem sapato.
Sem fotografia
no bolso.
I n c i v i l
até depois de
morto.
Um morto sem
educação, mas
uma flor na mão,
num cromo.
Resta-lhe, ao todo,
um ramo de pronomes
para a autópsia:
"quem
alguém
Ninguém"
E aquela flor na
mão.
Não se sabe como.