JOGRAIS E MENESTRÉIS
(I)
Jogral me chamam
e anuncio novo tempo
menos sombrio.
Tempo que previne a mutação
de trabalho e reunião.
Um tempo que fortalece
o homem,
não o consome.
Mais o engrandece.
(II)
Jogral não sou nem anuncio
o que vem e é sabido.
Depois da tempestade
vem o estio...
O que parece imóvel é movido.
(III)
Mas eu te digo não chegou
esse momento
de todos cantarem alegria.
Ainda é tempo de calmaria.
(IV)
Não jogral por destalento...
me falta ar e movimento.
Falto em graça e sentimento;
entulhado, vazio por dentro.
— Menos jogral e divertido
mais menestrel eu sou,
consciente do meu papel
de cantor do povo,
como posso e vou.
Eis assim que eu sou
sendo, sou e passo,
reinvestido de herói
em linho, pedra e aço.
(V)
Vivemos o tempo de ira.
Momento de palavra presa
da insegura presteza
e o pão ácido à mesa.
Ainda assim cantaremos
pelo tempo da colheita,
com alimento na eira,
sob palavra aceita
e sobre nós nossa bandeira.
(VI)
Afinal, eu me apresento
jogando força à minha voz,
mesmo gesto em descompasso,
não sei, não sou, mas faço.
(VII)
Eu de minha parte
canto.
Faço profissão de arte.
Protesto. Canto.
Primeiro um canto fraco,
mas canto de precisão,
chamado de reunião.
Mesmo inseguro
talhando algum perigo
canto o homem do futuro.
E quem quiser, cante comigo.
(VIII)
É tempo de ira,
da palavra incerteza.
Ainda assim cantaremos
o anúncio dos feitos,
a causa e seus efeitos.
Ainda assim cantaremos.
Cantaremos...
E quem quiser cante comigo.