INTERROGATÓRIO
"Nada de frescura",
fala o velho agente,
quando Ilo, vulgo "cabaço”,
começa a chorar,
com sua sandália
de tiras arrancadas
e o sangue a descer;
"nada de frescura",
repete o velho agente
a completar o que diz
com magistral bofetada
no rosto de Ilo;
nesse instante, a mulher
lembra, ao telefone,
que é dia de supermercado;
o velho agente
ainda mais furioso,
grita à distinta
que estava trabalhando,
e, só por pirraça,
dobra as horas
do interrogatório de Ilo;
e deixa o supermercado
para o dia seguinte.
Comentário do pesquisador
Optou-se por registrar esse poema no Memorial Poético dos Anos de Chumbo devido à ênfase com a qual tematiza a violência institucional, os abusos no cárcere e o papel do algoz.