INICIAÇÃO DO PRISIONEIRO
(Poema escrito a 21 de novembro de
1965, numa cela do Quartel da Polícia
do Exército, no Rio de Janeiro, ao qual
o autor foi recolhido por haver partici-
pado de uma manifestação contra a di-
tadura, em frente ao Hotel Glória, no
instante mesmo em que ali chegava o
ditador para inaugurar a Conferência
da OEA. Desse protesto participaram, en-
tre outros, os companheiros Antônio
Callado, Jayme de Azevedo Rodrigues,
Carlos Heitor Cony, Márcio Moreira Al-
ves, Flávio Rangel, Glauber Rocha, Joa-
quim Pedro de Andrade e Mário Carnei-
ro, todos eles presos —— e aos quais é
dedicado este poema.)
É PRECISO que Amor seja a primeira
palavra a ser gravada nesta cela.
Para servir-me agora e companheira
seja amanhã de quem precise dela.
Não sei o que vai vir, mas se desprende
dessa palavra tanta claridão,
que com poder de povo me defende
e me mantém erguido o coração.
No muro sujo, Amor é uma alegria
que ninguém sabe, livre e luminosa
como as lanças de sol da rebeldia,
que é amor, é brasa e de repente é rosa.