História para cordel
Senhor Doutor Sobral Pinto
que gosta de escrever cartas
aos poderosos do dia
defendendo os inocentes
fique sabendo
por estas mal traçadas linhas
que não creio em suas fotos
nem na certidão de idade.
— Por favor, não se apoquente
(Epa, isso é palavra de antanho
e antanho também já era…)
não se põe aqui em dúvida
a certeza do que diz
e a beleza do que faz.
Ocorre que há muito é noite
no Brasil: quatorze anos
(nem na Antártida é tão longo
o sono do amigo Sol)
e o senhor sempre na sua
gritando pela Justiça
mostrando os torturadores
criticando as ditaduras.
Por isso não acredito
nessa idade que lhe dão.
É uma pena que eu não seja
um poeta de cordel
para contar num livreto
essa história nunca vista
de quem – por ser justo e bom –
vai ficando cada dia
por condão de sua madrinha
a Senhora Liberdade
em vez de velho –
mais moço.