HISTÓRIA DO FUTURO
A velha máquina do mundo arqueja,
arqueja, não pode mais, não pode
mais…
A torcida
de um lado e outro grita:
—— Pode! Não pode! Pode! Não pode! Pode!
A velha máquina,
obsoleta como essas comovedoras criaturas a quem apelidaram Ford
de bigode,
a velha máquina, num derradeiro esforço,
explode: —— Pifff…
Mal se ouviu.
Uns riem.
Outros, os últimos românticos, arrepelam-se: “Então
isto é explosão
que se preze? Onde é que está
onde é que está aquele último dó de gavetão
como só os pode soltar um verdadeiro leão
no seu canto de cisne?!”
Ora, depois que se dissipou no ar a última fumacinha,
os curiosos, isto é, os sádicos
foram se aproximando na ponta dos pés:
aquilo estava irreconhecível… pura, pura sucata!
Mas
o Canhoto apontou no seu canhenho:
“Avisar Abraão para avaliar.”
Só ele, na perplexidade universal,
só ele, o Canhoto, é que tinha razão.
Porque a sucata,
na verdade
—— seja o que for
que tenha sido ——,
é um mero estado transitório do material em disponibilidade.
Não tem nada de trágico.
A sucata é o material em férias…
Alegremo-nos, irmãos.
Amigos e inimigos, demo-nos todos as mãos
e dancemos de roda em redor dos destroços
sobre o chão da miséria…
Dancemos e cantemos
—— chocalhando os ossos ——
a nossa
mais esperançosa canção…
Porque a sucata quanto mais sucata
mais pode vir a ser UMA OUTRA COISA!