há uma tranquilidade na insatisfação
uma fartura que é renúncia à posse
um aceitar que mal divisa o que aceita
quase emoção ideias quase
espelhando-se em nuvens ainda tímidas e noturnas
porém desmentindo a noite
numa lividez próxima à pureza do sangue e do sol
e eu as contemplei aquelas nuvens
contemplei-as certo de que lhes devia dar abrigo
ainda que as redes de vidro tecidas pelo todo-o-dia
em negligência ou clamor
aprisionassem este inquieto empenho
serei meu cárcere ou serei minha liberdade?
mas que lábios
aqui
diriam atingimos?
mas não confiemos na inércia
as mãos se usam no ofício
e não és um tonto em prever que elas modelariam a última figura
as mãos se devem gastar
para isso foram feitas
as tuas mãos as minhas
não confies na inércia
e ao longe
as nuvens
hóspedes de teus olhos
narrando em sonho o país que desconheces
estende o olhar
—— que importam as lágrimas? ——
estende o olhar
o tempo é feito de estilhaços
estende o olhar