Gamo o gamar

Jorge Mautner

GAMO O GAMAR

 

Amo o amar

Só adianta

Quem canta

E se espanta e espanta

A besteira que é tanta

Vamos aprender a amar

O nosso ar e lar e mar e dar e amar e estar

Jamais aprisionar e subjugar-controlar-manipular

Mas sim, aliás, se emocionar com o Brás

Com a onça e toda a nossa bossa e tudo que se possa

Na nossa joça ser algo que adoça e que coça

E remoça pois é nossa como a carroça e a palhoça

E a roça e a onça de novo com toda geringonça

E a nossa anta e capivara

E arara e curupira que pira

E Saci-Pererê e você e toda planta

Que tem tanta

E tudo mesmo que é mudo

É coisa santa quando canta

E isso é isso e só isso adianta

E viu e sentiu a farra no Farol da Barra

E a festa da raça multidão como floresta na praça

Todo sutil significado de país de céu de anil

Momento fugaz num zás-trás

A alma secreta e repleta de tão completa do Brasil

Da selva sem fim até o mar por onde deságua o grande rio

Quente atmosfera

Sente átomos na esfera

Da gente quando era

Mais filho que avô

Mais direto que fingidor

Objeto direto, direto na dor

Passatempo predileto era curtir naquele tempo

Com vento lento o tormento do ciúme

Estrume e talvez simples costume

Do amor sem destino

Sem meta só desatino

Salada completa

Mas nada recordo

Só essa madrugada é predileta

Como a grana do bacana na carteira

Como o trono da coroa do décimo nono Rei Momo

E que durante o ano era mordomo

Levou cano no cotidiano

Se não me engano

Mais do que quem pratica crimes de caráter insano

Já foi rei e guarda-civil é gordo mais sutil

Já está adiante do mais intrigante instante

Apavorante

Chocante

Este gordo rei Baco-Dionisius de nossa carne-naval

Para os deuses e deusas do paganismo a ressurreição

Por aqui não foi nada mal

Tem até caráter brasileiramente legal

Burocratizada e institucional

Já se está adiante

Nem que adiante

Mesmo não querendo estar tão avante

Vá adiante com esse brilho

De filho ou dos trilhos

Das novas ferrovias que são urgentes

Para que nossa crescente agro-pecuária alimente

A nós em primeiro lugar e depois todas as outras gentes

É a noite da noite dentro do dia a dia

É a alegria do riso que ria

Assim como a garganta que canta

E que assim se liberta

Dessa coisa que aperta

E que só adianta o que se canta

E é preciso até ser preciso no impreciso

E dizer é não ao não do vacilo ou do bacilo

Mas sim à imperfeição do humano

Pois sua perfeição inclui o engano

É preciso o que eu preciso

É preciso precisar pisar teu piso

Liso no riso e com juízo

Com aquele amor que é preciso

Como diz o samba imortal para entrar no paraíso

Com sorriso sem prejuízo corrosivo

Ou totalitarismo agressivo

Ou como Narciso

Que se evaporou como beija-flor

E a ninguém amou

Assim não seremos, não sou!

Sabemos

Que somos

O que fomos

E seremos

Supremos

Vencendo combatendo

(sempre entendendo)

Os venenos

Supremos

Seremos

Serenos

E assim teremos

Os amores que queremos

Nessa terra santa

Onde tem tanta anta que canta

Como só canta

E levanta

E adianta

Quem se encanta

E que se alevante

O supermaracatu elefante

Democratizante!

Aqui é mesmo o final

Abaixo o nazismo universal!

"Ciau"

Jorge Mau

Ou bem

Jorge Ben?!

 

 

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Coordenação

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Nelson Martinelli Filho (IFES/UFES/CNPq)

Wilberth Salgueiro (UFES/CNPq)

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Valéria Goldner Anchesqui

Bolsistas de pós-doutorado (CNPq)

Camila Hespanhol Peruchi

Rafael Fava Belúzio

Pesquisadores/as vinculados/as

Abílio Pacheco de Souza (UNIFESSPA)

Ana Clara Magalhães (UnB)

Cleidson Frisso Braz (Doutorando UFES)

Cristiano Augusto da Silva (UESC)

Diana Junkes (UFSCar)

Fabíola Padilha (UFES)

Francielle Villaça (Mestranda UFES)

Henrique Marques Samyn (UERJ)

Marcelo Paiva de Souza (UFPR/CNPq)

Mariane Tavares (Pós-doutoranda UFES)

Patrícia Marcondes de Barros (UEL)

Susana Souto Silva (UFAL)

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