FOGOS JUNINOS
“Como um cheiro do céu, na muda noite
Errava da ipoméia da montanha
A peregrina essência delicada."
Alberto de Oliveira
Primeiro o cheiro
do jasmim.
Entrelaço.
Trepa, atinge a altura, se espalha no ar e toma o mundo
e dá
essência
prazer.
Ah, maçã
a sedução.
Firmes, transparentes bagos entre os dentes
prestes a espocar
sangue vivo
a pena contido
em bolhas na romã.
Então
as flores do meu campo
verde
minado.
Cada passo anseia o chão
o certo no chão
a umidade boa, fria
que nos faz
faz as frutas
a casa que é o chão.
Mas de cada passo salta uma explosão
um tiro
uma chuva de lágrima.
Sorriso é grito
lancinante
olho é buraco, a soltar choro
ou secura
ouvido violado, tímpano rompido
braços cortados, cabeças.
Aí incêndios, tropel
além silêncio
montanha de cadáver.
Fogo, fumaça.
Por cima o céu azul e limpo.
Aqui, tão amado, tão bonito
o menino abre as mãos
estende o presente
nas palmas
por sobre as linhas da vida
orgulhoso, satisfeito
sério:
granadas.
O futuro são granadas.
Você é menino
súplica
no soslaio que inclina
de baixo pra cima
diz
—— (me aprova)
quero ser feliz.